segunda-feira, 25 de julho de 2011

Música na Cidade do Sol

     Andar pela cidade é sentí-la, é construir significados para ela e para si mesmo. Caminhar pela cidade é se encontrar e se perder. Uma boa criatura urbana. ainda que mais distraída, enxerga as cores das roupas, das lojas, o vermelho dos carros, o verde das plantas. E o cheiro das pessoas? As que detestamos e as que amamos têm cheiro. O cheiro de quando acorda, o cheiro de tomar banho, o cheiro do trabalho, o cheiro da noite quente... Tudo o que nos faz sentir algo, tudo o que nos provoca o corpo e a mente está sempre em movimento e foge quando queremos sempre mais ou esbarra em nós quando não desejamos. É assim também com a música. Existem aquelas que nos fazem vibrar, nos deixando cheios de uma energia boa e renovadora. É como se essa arte divina varresse teletransportasse a um universo de perfeição que só a nossa mente controla, onde não há interferência de outrem e que por isso é perfeito. Nesse momento o tempo pára e buscamos manter a boa sensação. Se possível, repetimos a música. Mas nem sempre tudo é tão bom.
     Como tudo está em movimento, existem músicas não tão boas que também estão. E pior, muitas vezes elas são transportadas por aí em carros por gente que acha que forçar os outros a ouvirem a mesma coisa que eles é democracia. Os sons potentes costumam trazer consigo o dissabor de letras repetitivas, refrões monótonos como o trânsito engarrafado.
     Então, ouvindo aquilo, você se pergunta: é mesmo justo com Beethoven, Chopin e Mozart chamar essas coisas de músicas? Não! São apenas barulhos organizados, enganos que deram certo dentro de uma cultura musical tão pobre só pode mesmo estar disposta a aceitar qualquer coisa excessivamente simples (simplista) que o mercado fonográfico e as pessoas escolheram para divulgar e ouvir. O punk, como música simples, poderia ser colocado nesse quadro, visto que não é elaborado para ser tão complexo? Creio que não. O "faça você mesmo" tinha uma preocupação grande com conceitos e ideologias. Fazia sonhar com um mundo melhor e incentivava a busca por mudanças. Por outro lado, axé musics e swingueiras estão estagnados na sexualidade, no duplo sentido, na cacofonia. O problema é que nesse  o prazer deixa de estar em ouvir e migra para outro lugar. Não que falar desse tema (sexo) seja necessariamente ruim, mas só falar nisso denota a incapacidade do "compositor".
     Enfim, o problema da música ruim é que quem a fabrica e quem a ouve em geral o fazem sem terem sido apresentados a outros tipos de música, ou seja, o fazem muitas vezes por desconhecimento, por ausência de escolha. O pior de tudo, assim, é a democracia da falta de opção através de um sistema de som imenso que toca swingueira sem parar, forçando que um dia escolheu MPB, rock, blues, ouseja lá que outro estilo for, a ouvir o que não quer.

Felipe Tavares de Araújo é Historiador, Poeta e Músico.

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